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A pluralidade da produção das novas gerações

Um dado importante verificado ao longo da pesquisa demonstra que houve uma renovação entre os autores de equipamentos culturais construídos a partir do ano 2000, em relação aos principais arquitetos atuantes entre 1985 e 1999. No século XXI, muitas obras do setor foram confiadas à arquitetos jovens, formados a partir de 1975, sendo a grande maioria formada a partir de meados da década de 1980.

 

Entre os equipamentos desenhados por arquitetos de gerações mais jovens destaca-se a diversidade de temas e questões que abordam, ilustrando o diálogo contemporâneo das novas instituições com outras dimensões do conhecimento e da vida humana.

Obras de diferentes escalas, programas e finalidades como o Museu do Pão, o MAR, o IMS, o Museo de la Memoria e a Galeria Claudia Andujar formam parte desse grupo.

Arquitetos formados
>1975

Referências

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  • LOMBARDI, José Claudinei; CASIMIRO, Ana Palmira Bittencourt Santos; MAGALHÃES, Lívia Diana Rocha. História, cultura e educação. Campinas: Autores Associados, 2006

  • SAVIANI, Dermeval; LOMBARDI, José Claudinei; SANFELICE, José Luís (orgs.). História e História da Educação. São Paulo: Autores Associados; HISTEDBR, 1998.

  • SAVIANI, Dermeval; et al. O legado educacional do século XX no Brasil. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2006.

  • BLACKBURN, Robin (Org.). Ideologia na ciência social: ensaio críticos sobre a teoria social. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

Bernardes & Jacobsen

Museu de Arte do Rio

Rio de Janeiro, 2010-13

2 tbsp.

Salt

3 cups

Flour

Brasil Arquitetura

Museu do Pão

Ilópolis, 2005-07

2 tbsp.

Salt

3 cups

Flour

O pequeno Museu do Pão (2005-07), projetado pelo escritório Brasil Arquitetura é exemplar da impugnação de fronteiras fixas entre o popular e o culto, estimulando a interação entre história, cultura e a vida da comunidade. A partir da recuperação de um moinho de grãos desativado, construído pelos imigrantes italianos que chegaram em massa ao Brasil entre o final do século XIX e início do XX, idealizou-se um centro de resgate da memória e das tradições locais, constituindo-se como novo centro significativo da pequena cidade de Ilópolis, no estado do Rio Grande do Sul.

Assim como o Museu do Pão, o Museu de Arte do Rio (2010-13), conhecido pelo acrônimo MAR, faz parte de um numeroso grupo de edifícios históricos convertidos em centros culturais, uma forte tendência observada no Brasil a partir de meados da década de 1980 quando, em meio ao cenário instável da pós-modernidade, o acervo construído – com especial atenção ao patrimônio eclético -  passou a ser valorizado como legado cultural a ser reutilizado. Obra do escritório carioca Bernardes & Jacobsen (BJA) situada na Praça Mauá, importante referência urbana da região portuária do Rio de Janeiro, foi criado sob a peculiar condição de se reciclar e integrar três edificações protegidas por órgãos patrimoniais: um palacete eclético inaugurado em 1916; uma obra modernista dos anos 1940; e a antiga marquise de um terminal de autocarros inaugurado em 1950 como a primeira rodoviária interestadual do Rio de Janeiro.

O Brasil Arquitetura tem grande experiência na 
Reciclagem de edifícios
históricos em equipamentos culturais
O MAR é um dos
raros projetos públicos do extinto escritório Bernardes & Jacobsen

A transformação de áreas urbanas em distritos culturais é uma característica distintiva que mistura política urbana e cultural no Brasil contemporâneo, intensificada a partir de meados dos anos 1980. O projeto do MAR faz parte de uma tendência de resgate dos conjuntos patrimoniais das áreas centrais usado, a exemplo do que havia ocorrido na Europa em décadas anteriores, como grandes vitrines publicitárias das cidades, muitas vezes constituindo-se em estéreis teatros da memória.

A sede paulista do Instituto Moreira Salles (2012-17) integra um desses territórios culturais, consolidado de forma relativamente espontânea ao longo dos quase três quilômetros da via mais simbólica de São Paulo, a Avenida Paulista. Reconhecida como centro financeiro do Brasil, a avenida que abriga o icônico Museu de Arte de São Paulo, o MASP (1957-68), de Lina Bo Bardi, atualmente é caracterizada pela diversidade. A partir da década de 1990, com a inauguração da Casa das Rosas, centro de cultura instalado em um palacete dos anos 1930, passou a consolidar-se como um eixo cultural que conta atualmente com o instituto Itaú Cultural (1991-95), de Ernest Mange (1922-2005); o centro Cultural da FIESP (1996), intervenção de Paulo Mendes da Rocha no térreo do edifício sede da instituição; a Japan House (2017), do arquiteto japonês Kengo Kuma; e mais recentemente o SESC Paulista (2018), dos arquitetos Konigsberger e Vannucchi.

Assim como a maioria das demais instituições citadas acima, o IMS é parte de uma série de importantes instituições culturais privadas, viabilizadas por leis de incentivo surgidas a partir do final dos anos 1980. Fundado em 1992 e com sedes nas cidades de Poços de Caldas, Rio de Janeiro e São Paulo, possui importantes patrimônios em fotografia, em mais larga escala, música, literatura e iconografia.

Desenhado por Vinícius Andrade e Marcelo Morettin em diálogo com os prédios mais icônicos da avenida, o edifício do instituto parte de um firme compromisso com a cidade, que adentra o térreo liberado como espaço público, novamente evocado em uma praça situada no quarto andar, de onde pode-se apreciar a vista da movimentada avenida.

Andrade Morettin

Instituto Moreira Salles

São Paulo, 2012-17

2 tbsp.

Salt

3 cups

Flour

O marcado caráter público e as características projetuais do
IMS e do MMDH renovam a
tradição arquitetônica paulista

Estudio América

Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos

Santiago do Chile, 2010

2 tbsp.

Salt

3 cups

Flour

O marcado caráter público e as características centrais do projeto da sede do IMS inscrevem-no em uma tradição arquitetônica viva, que ainda encontra na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo seu centro de gravidade, ancorado em figuras como João Batista Vilanova Artigas (1915-85) e, principalmente, Paulo Mendes da Rocha.

Algo ainda mais claramente perceptível no Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos (2010), projetado para Santiago do Chile pela equipe brasileira do Estudio América, então formado por Mario Figueroa, Lucas Fehr e Carlos Dias. Vencedora de um concurso, a proposta completa prevê dois edifícios autônomos conectados por uma praça rebaixada, estabelecendo um diálogo com a morfologia histórica da cidade. O museu é um prisma horizontal elevado sobre uma esplanada enterrada que assume um caráter cívico e evocativo da dimensão pública da praça tradicional em meio à quadrícula edificada.

Na estratégia de concentrar o programa todo em um único volume elevado do solo, liberado como extensão da área pública, define-se uma simbiose entre arquitetura e espaço urbano que reflete a genealogia paulista do grupo. De forma mais específica, o grande bloco regular suspenso sobre uma base recortada em linhas oblíquas, entremeadas por espelhos d’água, remetem ao projeto do Museu Brasileiro de Escultura, MUBE (1987-95), de Paulo Mendes da Rocha.

Juntamente com o Museu dos Coches e o Centro Cultural Principado de Astúrias (2011), projetado por Oscar Niemeyer na cidade espanhola de Avilés, o Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos integra o pequeno grupo de museus feitos por arquitetos brasileiros no exterior, uma discreta contrapartida aos espetaculares museus feitos por estrangeiros no Brasil desde o ano 2000.

Maxita Yano
(casa de barro) foi o nome que os Ianomâmis deram à 
Galeria Claudia Andujar

Arquitetos Associados

Galeria Claudia Andujar

Brumadinho, 2012-15

2 tbsp.

Salt

3 cups

Flour

A Galeria de Cláudia Andujar (2012-15), faz parte de parte de complexo museístico de caráter bastante peculiar. O Inhotim, localizado na cidade de Brumadinho, em Minas Gerais, é uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) idealizado pelo empresário mineiro Bernardo de Mello Paz a partir de meados da década de 1980. Em meio a um imenso parque com paisagismo luxuriante, espalha-se um vasto acervo de arte contemporânea, distribuído pelos espaços do parque e em 23 galerias temáticas de diversos artistas, projetadas por escritórios capitaneados por jovens arquitetos locais.

Os Arquitetos Associados, composto pelos arquitetos Alexandre Brasil, André Luiz Prado, Bruno Santa Cecília, Carlos Alberto Maciel e Paula Zasnicoff Cardoso, além de assinarem o projeto da galeria Claudia Andujar, também projetaram as galerias de Doris Salcedo (2006-08), Miguel Rio Branco (2008-10) e Cosmococa (2008-10). O escritório Rizoma, de Thomaz Regatos e Maria Paz, assina as galerias de Lygia Pape (2010-12) e de Tunga (2011-12), enquanto o Play Arquitetura, de Marcelo Alvarenga, é responsável pelos pavilhões de Marilá Dardot (2011) e Carlos Garaicoa (2012). Rodrigo Cerviño Lopez é autor da Galeria Adriana Varejão (2004-08), feita especialmente para abrigar uma única obra da artista.

A Galeria de Cláudia Andujar expõe as fotografias da suíça de origem judia radicada no Brasil desde 1955, com ênfase na série de imagens que retratam a vida e a cultura dos índios Ianomâmis, entre os quais Andujar passou 14 meses entre 1974 e 1976. O uso de tijolos e madeira remetem ao universo “natural” da floresta, essencialmente ligado à terra e a seus recursos.

O coletivo formado pelos Arquitetos Associados representa uma forma de trabalhar cada vez mais comuns entre os profissionais na atualidade. Primeiro pela forma aberta com que os projetos são desenvolvidos, nem sempre com a participação de todos os integrantes e muitas vezes com a participação de colaboradores externos. Depois, pela busca deliberada de uma arquitetura sem linguagem definida ou fechada, dissolvendo o caráter autoral, algo também reconhecível na denominação genérica do escritório. A composição flutuante e a dissolução da ênfase autoral cedem espaço a escritórios coletivos, na maioria das vezes batizados sem os nomes próprios de seus integrantes (Arquitetos Associados, Metro, Piratininga, Grupo SP, Núcleo de Arquitetura, Brasil Arquitetura, República, Projeto Paulista, Una, etc.) e até com siglas que dificultam o reconhecimento individual (SPBR, MMBB, FGMF, NPC, etc.).

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