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O papel dos mestres no século XXI

No início do terceiro milênio, a arquitetura brasileira desenvolveu-se sob a peculiar condição de ter tido dois de seus mais importantes arquitetos modernos entre as principais figuras da produção contemporânea: Oscar Niemeyer, falecido em 2012 aos quase 105 anos, e Paulo Mendes da Rocha, que segue ainda muito atuante do alto de suas nove décadas de vida.

Além da qualidade excepcional da arquitetura e da notável longevidade de ambos, um importante movimento de revalorização de suas obras, já próximo ao final do século XX, contribuiu para que tal cenário se desenhara. No refluxo das experiências pós-modernas, Niemeyer foi agraciado com o prêmio Pritzker em 1988, e a obra de Mendes da Rocha abriu um novo ciclo de protagonismo a partir do projeto para o MUBE (1986-95), em São Paulo. Já no século XXI, o então quase centenário arquiteto carioca foi convidado para desenhar o pavilhão de 2003 da Serpentine Gallery, em Londres, enquanto o paulistano começava a acumular as mais importantes premiações de arquitetura, entre elas o Pritzker de 2006.

Oscar Niemeyer

Serpentine Gallery Londres, 2003

2 tbsp.

Salt

3 cups

Flour

1988
Priztker
Oscar Niemeyer  
2006
Priztker
Paulo Mendes da Rocha

Paulo Mendes da Rocha

MUBE

São Paulo, 1986-95

2 tbsp.

Salt

3 cups

Flour

Entre as obras de maior importância e visibilidade da arquitetura brasileira neste início de século figuram o Museu Oscar Niemeyer - MON (2001-02), do próprio Niemeyer, em Curitiba, e o Museu Nacional dos Coches (2008-16), de Mendes da Rocha, projetado para Lisboa com a colaboração dos escritórios MMBB e Ricardo Bak Gordon.

As duas guardam indícios de como a obra de ambos responde ao contexto contemporâneo, seja pelos procedimentos projetuais, seja pela estreita relação entre o nível de consagração de um arquiteto e o número de encomendas recebidas para obras icônicas, dentre as quais destacam-se os equipamentos culturais. Com efeito, na primeira década do novo século, metade dos projetos desenvolvidos por Niemeyer tinham finalidade cultural, ante uma média de pouco mais de um sexto do início de sua carreira até o final do século XX. No caso de Mendes da Rocha, essa proporção atingiu aproximadamente um terço no mesmo decênio, frente a pouco mais de um vigésimo em toda sua trajetória pregressa. No mesmo sentido, levantamentos realizados nas edições da Revista Projeto entre 1985 e 2018 mostraram que são os arquitetos brasileiros que possuem o maior número de obras culturais publicadas.

Oscar Niemeyer e Brasil Arquitetura

Museu Oscar Niemeyer

Curitiba, 2001-02

2 tbsp.

Salt

3 cups

Flour

1/2
dos projetos de Niemeyer entre
2000-2010
foram para equipamentos culturais
Captura_de_Tela_2018-08-25_às_21.08.08.p

Paulo Mendes da Rocha, MMBB e Bak Gordon

Museu Nacional dos Coches

Lisboa, 2008-16

2 tbsp.

Salt

3 cups

Flour

1/3
dos projetos de Mendes da Rocha entre
2000-2010
foram para equipamentos culturais
Captura_de_Tela_2018-08-25_às_21.08.08.p

Através da análise das principais características destas obras, pode-se indagar sobre alguns aspectos dessa condição, bem como acerca das dinâmicas de permanência e transformação que necessariamente permeiam o pensamento e o projeto de arquitetos com trajetórias tão extensas. Formados sob os preceitos da arquitetura moderna, com sua fé na tecnologia e no papel redentor da arquitetura sobre a sociedade, tanto Niemeyer quanto Mendes da Rocha tratavam o programa de necessidades como pretexto para a idealização de edifícios em intenso diálogo com a cidade e a paisagem.

Nesse grupo de arquitetos provenientes da geração moderna também se destacam as presenças de Ruy Ohtake, autor de obras relevantes na área cultural como o Instituto Tomie Ohtake (1995-2014); Décio Tozzi, arquiteto que projetou o Parque Villa Lobos e, dentro dele, sua intensamente utilizada biblioteca (2009-13); e Eduardo de Almeida, autor da Biblioteca Brasiliana (2007-2013), todas em São Paulo.

Ruy Ohtake

Instituto

Tomie Ohtake

São Paulo, 1995-2014

2 tbsp.

Salt

3 cups

Flour

Décio Tozzi

Biblioteca do Parque Villa Lobos

São Paulo, 2009-13

2 tbsp.

Salt

3 cups

Flour

Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb

Biblioteca Brasiliana

São Paulo, 2007-13

2 tbsp.

Salt

3 cups

Flour

Além de lançar luz sobre a ativa presença de arquitetos veteranos no cenário contemporâneo, as obras componentes dessa seção permitem avaliar o intercâmbio entre eles e arquitetos mais jovens, tanto direta quanto indiretamente. O repertório desenvolvido por Mendes da Rocha e Eduardo de Almeida, por exemplo, é parte de uma cultura arquitetônica viva iniciada por João Batista Vilanova Artigas (1915-85), e que ainda encontra na FAUUSP seu centro de gravidade. Ao contrário de Niemeyer, que sempre trabalhou com um número restrito de colaboradores, uma caraterística distintiva da fase madura de Paulo Mendes da Rocha e Eduardo de Almeida é a frequente colaboração com escritórios de jovens arquitetos. Esse fato também contribui para a manutenção da força referencial que a produção moderna paulista exerce sobre grande parte da nova geração de arquitetos, cujo modo de projetar discreto, consciente e cauteloso indica um processo saudável de autonomia crescente em relação a seus referenciais iniciais, ao qual outros vão se agregando.

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