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Museu Oscar Niemeyer  

Oscar Niemeyer + Brasil Arquitetura 

Curitiba, Paraná, 2001-2002 

 

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Conhecendo Museus - Ep. 14: MUSEU OSCAR NIEMEYER
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Situação: Construído (arquiteto convidado)

Tipo de Intervenção: Expansão/ Reforma

Acervo: Arte Moderna e Contemporânea

Caráter: Público

Referências

Apresentação

O museu, que atualmente leva o nome de seu criador, nasce a partir do empenho do então governador do Paraná, Jaime Lerner, de implantar em Curitiba um museu que inserisse a cidade no cenário nacional e internacional da cultura. Lerner vislumbrava o museu como mais um ponto da política de “acupuntura urbana”, implantada desde sua primeira gestão como prefeito a partir de 1971 quando passou a inserir na cidade poderosos símbolos urbanos como o Jardim Botânico (1991), de Abrão Assad, e a Ópera de Arame (1992), de Domingos Bongestabs.

A idealização do museu vinha embalada pelo “fenômeno Bilbao”, deflagrado pelo espetacular museu de Frank Ghery inaugurado em 1997, que despertava o interesse de cidades decadentes ou de projeção secundária ao redor do mundo. Antes mesmo da experiência espanhola, Niterói havia entrado no mapa turístico do Rio de Janeiro com a inauguração do Museu de Arte Contemporânea em 1996, obra de Niemeyer.

Curitiba, inclusive, valeu-se do projeto para entrar na briga por receber a sede brasileira de um Guggenheim, anunciada pela instituição americana em 2001 e vencida pelo Rio de Janeiro, porém nunca executada.

No ano anterior, Lerner já havia convidado Niemeyer a converter o antigo edifício que havia projetado para abrigar o Instituto de Educação do Paraná (IEP) em museu. Inaugurado em 1978, o prédio nunca chegou a abrigar sua função original de instituição escolar devido a questões políticas, passando a funcionar como sede de diversos órgãos da burocracia estatal, sendo rebatizado com o nome do General Castelo Branco.

Implantado no Centro Cívico, previsto no plano que Alfred Agache elaborou em 1943 para a capital paranaense, o museu fica no limite entre as amplas áreas verdes projetadas por Roberto Burle Marx em 1977, que envolvem as sedes dos governos estadual e municipal, o Parque Papa João Paulo II, e o tecido urbano genérico de bairros tradicionais da cidade. 

A localização estratégica e a grande dimensão do prédio, com 28.000 m2 subutilizados e mal adaptados às funções burocráticas que exercia, ajudaram a definir sua escolha como sede do novo museu. Além disso, sua ascendência justificava o convite a Niemeyer, a quem coube a função de criar um ícone que reforçasse a imagem de Curitiba como cidade modelo eficiente e inovadora.

Subentende-se, portanto, que a exigência feita por Niemeyer de se construir um novo edifício, que cumprisse o papel de simbolizar a nova instituição, foi bem recebida pelo então governador, em busca de um emblema para marcar sua passagem pelo governo estadual.

A atenção de Niemeyer concentrou-se na expansão do setor expositivo, cujo perfil evoca a forma de um olho, enquanto a adequação do edifício Castelo Branco foi capitaneada pelo escritório paulistano Brasil Arquitetura, de Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, a convite do próprio arquiteto carioca.

A fim de ser terminado antes do final do mandato de Lerner, o museu foi construído em apenas 185 dias, entre 2001 e 2002, quando foi inaugurado como NovoMuseu. A generalidade do nome denuncia a indeterminação expositiva, que não contou com projeto museológico. Seu acervo inicial foi formado por obras pertencentes ao Museu de Arte do Paraná (MAP) e ao extinto Banestado, dificultando a formação de um acervo coerente. Em 2003 teve seu nome alterado para homenagear seu arquiteto, passando a ser chamado Museu Oscar Niemeyer (MON).

Falecido em 2012 aos quase 105 anos, Oscar Niemeyer foi protagonista de uma das mais extensas, produtivas e célebres trajetórias que se tem notícia na história da arquitetura mundial. Já consagrado pela notoriedade de ser autor de grande parte dos edifícios mais simbólicos do Brasil, nas décadas finais de sua vida o arquiteto idealizou um grande número de equipamentos culturais.

Com efeito, projetos para museus, centros culturais, teatros e afins compõem parte importante de seu acervo de projetos. Ainda que não contenha a relação completa de obras projetadas pelo arquiteto, a página da Fundação Oscar Niemeyer na internet lista 450 projetos de sua autoria, desenvolvidos entre 1935 e 2010. Destes, 87 são obras que podem ser relacionadas à temática cultural, ou seja, aproximadamente um quinto do total. Nas últimas décadas de sua produção, especialmente a partir dos anos 80, essa proporção aumentou significativamente. Na primeira década do novo século, por exemplo, a fundação conta 41 projetos elaborados, dos quais 22 foram para edifícios culturais.

A forte presença deste tipo de programa é, portanto, uma das características distintivas da última das cinco fases com as quais o próprio Niemeyer divide sua obra, iniciada quando o arquiteto retorna ao Brasil, após os anos de exílio durante a ditadura militar.

Menos analisado pela crítica, os 29 anos de produção compreendidos entre 1983 e 2012 concentram boa parte dos equipamentos culturais de grande vulto executados no país nesse período, como o conjunto do Memorial da América Latina (1986-89), em São Paulo, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (1991-1996), o Museu Nacional de Brasília (1999-2006), o Auditório do Ibirapuera (2002-2005) e o Museu Oscar Niemeyer (2000-02), em Curitiba.

O caso de Niemeyer confirma a tendência segundo a qual quanto maior o reconhecimento alcançado, maior o número de encomendas para obras icônicas um arquiteto passa a receber. Em seu caso específico, além do renome, a surpreendente longevidade precipitou uma “corrida” entre cidades, ávidas por garantir seu próprio “Niemeyer”, fundindo metonimicamente criador e criatura.

Algo que pode ser notado também pelo incremento de seus projetos culturais feitos para o exterior. Somente na primeira década do novo século, 7 projetos foram encomendados e 3 construídos: o Auditório em Ravello, na Itália (2000-2010), o pavilhão para a Serpentine Gallery (2003), em Londres, e o Centro Cultural Príncipe de Astúrias, em Avilés, na Espanha (2006-2011).

O Museu Oscar Niemeyer (MON), especificamente, oferece a oportunidade de cotejar características perenes e questões especificamente relacionadas à produção recente de um arquiteto cuja obra atingiu seu auge em meados do século passado. Permite ainda investigar a temática cultural em sua produção, na qual museus maiores e mais complexos somente saíram do papel nas últimas décadas.

O MON é um exemplar representativo de um partido arquitetônico recorrente nos projetos de museus de Niemeyer, qual seja, a suspensão do volume principal em apenas um ponto de apoio. Também ilustra uma estratégia compositiva comum em sua obra, a de agregar um elemento escultórico como complemento a outro volume formalmente mais contido.

Por outro lado, guarda uma peculiaridade relevante, ao ser a única ocasião em que o arquiteto efetivamente atuou na requalificação de uma obra de sua autoria.

Ivo Giroto, 2018

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