Museu Nacional dos Coches ↗
Paulo Mendes da Rocha + MMBB ↗+ Ricardo Bak Gordon ↗
Lisboa, Portugal, 2008-2016
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Foto Ivo Giroto, 2018.

Foto Ivo Giroto, 2018.

Foto Ivo Giroto, 2018.

Foto Ivo Giroto, 2018.
Fotos da Obra
Desenhos

Desenho de Gabriel Correa, 2018

Desenho de Gabriel Correa, 2018

Desenho de Gabriel Correa, 2018

Desenho de Gabriel Correa, 2018
Vídeos
Situação: Construído (arquiteto convidado)
Tipo de Intervenção: Obra nova
Acervo: Carruagens históricas e indumentária
Caráter: Público
Referências
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GIROTO, Ivo. Discursos transatlânticos: diálogos entre o Cais das Artes e o Museu dos Coches, de Paulo Mendes da Rocha. RISCO, São Paulo, 2019
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ANTUNES, Bianca. Fluidez entre público e privado caracteriza Museu dos Coches, em Lisboa, concebido por Mendes da Rocha, MMBB e Bak Gordon Arquitectos. aU, São Paulo, n. 203, fev. 2011.
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CARRAPA, Daniel. Novo Museu Nacional dos Coches. Blog A Barriga de um arquitecto, 15 mar. 2009.
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Casabella, una conversazione con Ricardo Bak Gordon. Casabella, n. 851-852, Jul./Aug. 2015, pp. 73-90.
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FRANÇA, Raphael. Fado tropical. Bamboo, São Paulo, n. 46, abr. 2015, p. 62-63.
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FURTADO, Rui. Un luogo pubblico, rigorosamente protetto e inaspettatamente aperto. Come è stato costruito il Museo delle Carrozze. Casabella, n. 851-852, Jul./Aug. 2015, pp. 67-72.
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MILHEIRO; Ana Vaz; SÁ, Daniela; SIMÕES, João Carmo; TAVARES, Gonçalo M. Museu Nacional dos Coches. Lisboa, Monade, 2015.
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MOURA, Eduardo Souto de. Il Paradosso di Zenone: note sul Museo delle Carrozze a Lisbona di Paulo Mendes da Rocha. Casabella, n. 851-852, Jul./Aug. 2015, pp. 91-93.
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Museu dos coches poderá ser aberto à visitação em 2015. Projeto Design. São Paulo, n.416, p.30, nov, 2014.
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NEVES, José Manuel das (ed.). Museu Nacional dos Coches. Lugar, projeto e obra. Lisboa: Uzina Books, 2015.
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OTONDO, Catherine. Desenho e espaço construído: relações entre pensar e fazer na obra de Paulo Mendes da Rocha. 2013. Tese (doutorado em arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismio, Universidade de São Paulo, São Paulo.
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Paulo Mendes da Rocha e Ricardo Bak Gordon. Museu dos Coches, Lisbona. Casabella, n. 851-852, Jul./Aug. 2015, pp. 62-66.
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Paulo Mendes da Rocha_Edição Temática. En Blanco, n. 15. Valencia: TC Cuadernos, Oct. 2014.
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PISANI, Daniele. Paulo Mendes da Rocha: obra completa. São Paulo: Gustavo Gili, 2013.
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RANGEL, Bárbara et. al. (eds.). Museu Nacional dos Coches: o projecto, a obra, as tecnologias. Cadernos d’Obra: international building journal, n. 4. Porto: Gequaltec/FEUP, Mar. 2013.
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SAFRAN, Yehuda. Museu delle Carrozze. The Plan, n. 66. Bologna: Centauro SRL, 2013, pp. 60-65
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ZEIN, Ruth Verde. Vehículos de la Cultura. Summa+, n. 146, Buenos Aires: Donn SA, Oct. 2015, pp. 22-33.
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WRIGHT, Herbert. Stand(ing) and deliver(ed). Blueprint, Londres, n. 333, p. 56-72, mar./abr. 2014.
Apresentação
No refluxo da experiência pós-moderna, o trabalho de Paulo Mendes da Rocha passou por um processo de revalorização dentro e fora do Brasil. Considerado um marco desse processo de renovação do interesse por seu trabalho, o Museu Brasileiro da Escultura – MUBE (1986-95), é apontado como uma de suas obras-primas. Como índice da crescente importância dos projetos culturais em sua produção recente, observa-se que das 33 propostas relacionadas à área cultural ao longo de toda a sua carreira, 25 foram feitas depois do ano 2000. Além dos museus em análise, destacam-se o museu infantil SABINA (1999-07), em Santo André; o Museu da Língua Portuguesa (2000-06) e a Praça dos Museus da USP (2010), ambos em, São Paulo; o Museu das Minas e do Metal (2006), em Belo Horizonte; e, alargando um pouco a interpretação, o recém-inaugurado SESC 24 de Maio (2000-17), também na capital paulista.
O Museu dos Coches foi encomendado pelo governo português com o duplo objetivo de abrigar uma vasta coleção de carruagens históricas, e integrar o projeto de transformação de uma das frentes urbanas mais importantes de Lisboa, a zona Monumental de Belém, que concentra tanto ícones da história portuguesa, como a torre homônima e o Mosteiro dos Jerônimos, quanto obras recentes, como o Centro Cultural de Belém, obra de Vitório Gregotti e Manuel Salgado, inaugurada em 1992.
Em 2008, Mendes da Rocha foi convidado a projetar a nova sede do Museu Nacional dos Coches, na zona monumental de Belém, em Lisboa, sua principal obra realizada fora do território brasileiro. Desenvolvido em parceria com o escritório paulistano MMBB e com o português Ricardo Bak Gordon, o museu foi encomendado pelo governo português com o duplo objetivo de abrigar uma vasta coleção de carruagens históricas e reforçar a vocação turística da área. Até então sediado em um belo edifício neoclássico vizinho, o museu carecia de espaço para expor a maior parte das peças do acervo. A complexidade do entorno exigia um engenhoso trabalho de amarração entre as diferentes características dos espaços adjacentes: um casario histórico situado na cota mais alta da rua posterior, uma grande praça ajardinada em uma das laterais, e uma movimentada via expressa que separa o terreno da orla do rio Tejo.
A resposta de Paulo Mendes da Rocha foi dada através de gestos claros e precisos, materializados em três volumes conectados por passarelas. O maior, um grande prisma horizontal branco e suspenso por pilotis abriga os setores expositivos e, no térreo, diversas estruturas de apoio. Ao lado, a expressividade estrutural do bloco anexo contrasta com a silenciosa imposição do volume branco. Do outro lado da avenida, um grande silo redondo para estacionamentos, branco e opaco, arremataria o conjunto, mas sua construção foi vetada pelo governo municipal.
Mais que uma forma de ligação entre as partes do museu, as passarelas revelam uma rede de conexões entre os edifícios e o entorno que define uma nova estrutura de uso para aquele trecho urbano. Imaginado como infraestrutura, o museu liga níveis e pontos diferentes da cidade, vencendo a obstrução representada pela via expressa e integrando-se à estação de trem de Belém. Os caminhos aéreos e as possibilidades de percursos que cruzam o edifício pelo térreo revelam a dimensão urbana do pensamento de Mendes da Rocha, que recusa a ideia limitada de terreno para propor uma estratégia de articulação do território.
O projeto define-se por um complexo exercício de costura urbana, no qual o esforço de contextualização não faz concessões linguísticas ou morfológicas ao entorno circundante. O diálogo com o entorno pode ser notado pelo posicionamento do bloco maior ao longo da via de alto tráfego e afastado do casario; pela relação de alturas, cores e predominância de vazios que o bloco anexo estabelece com a fachada histórica; e pela configuração de uma praça delimitada pelo espaço entre os dois e a irregularidade dos muros existentes que margeiam o terreno.
Procurando expressar-se através da linguagem universal da técnica, a arquitetura de Mendes da Rocha não advoga por ser brasileira ou portuguesa, mas oportuna. Ainda assim, ao assumir uma imposição urbana e uma linguagem arquitetônica pouco vistas na cidade, o Museu dos Coches é percebido por muitos europeus como obra de uma visão estrangeira. Na interpretação da historiadora portuguesa Ana Vaz Milheiro, Mendes da Rocha desembarca em Lisboa como um estrangeiro, e faz um museu hereditário de uma ideia de modernidade inata às sociedades novas, fundamentada em uma visão pós-colonialista que inverte a situação subalterna de seu passado colonial, incorporada no traçado do edifício que flutua sobre o chão da cidade (MILHEIRO, 2015, p. 67) No mesmo sentido, para o crítico inglês Herbert Wright, “(...) a arquitetura extraordinária por si guia os visitantes. Aqui, Mendes da Rocha a oferece de um modo que nenhum arquiteto europeu poderia – com a visão e a musculatura do Novo Mundo.” (WRIGHT, 2014, p. 71)
Ivo Giroto, 2018