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Museu Nacional dos Coches  

Paulo Mendes da Rocha + MMBB + Ricardo Bak Gordon 

Lisboa, Portugal, 2008-2016

 

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Paulo Mendes da Rocha - Museu dos Coches, entrevista completa
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Situação: Construído (arquiteto convidado)

Tipo de Intervenção: Obra nova

Acervo: Carruagens históricas e indumentária

Caráter: Público

Referências

Apresentação

No refluxo da experiência pós-moderna, o trabalho de Paulo Mendes da Rocha passou por um processo de revalorização dentro e fora do Brasil.  Considerado um marco desse processo de renovação do interesse por seu trabalho, o Museu Brasileiro da Escultura – MUBE (1986-95), é apontado como uma de suas obras-primas. Como índice da crescente importância dos projetos culturais em sua produção recente, observa-se que das 33 propostas relacionadas à área cultural ao longo de toda a sua carreira, 25 foram feitas depois do ano 2000. Além dos museus em análise, destacam-se o museu infantil SABINA (1999-07), em Santo André; o Museu da Língua Portuguesa (2000-06) e a Praça dos Museus da USP (2010), ambos em, São Paulo; o Museu das Minas e do Metal (2006), em Belo Horizonte; e, alargando um pouco a interpretação, o recém-inaugurado SESC 24 de Maio (2000-17), também na capital paulista.

O Museu dos Coches foi encomendado pelo governo português com o duplo objetivo de abrigar uma vasta coleção de carruagens históricas, e integrar o projeto de transformação de uma das frentes urbanas mais importantes de Lisboa, a zona Monumental de Belém, que concentra tanto ícones da história portuguesa, como a torre homônima e o Mosteiro dos Jerônimos, quanto obras recentes, como o Centro Cultural de Belém, obra de Vitório Gregotti e Manuel Salgado, inaugurada em 1992.

Em 2008, Mendes da Rocha foi convidado a projetar a nova sede do Museu Nacional dos Coches, na zona monumental de Belém, em Lisboa, sua principal obra realizada fora do território brasileiro. Desenvolvido em parceria com o escritório paulistano MMBB e com o português Ricardo Bak Gordon, o museu foi encomendado pelo governo português com o duplo objetivo de abrigar uma vasta coleção de carruagens históricas e reforçar a vocação turística da área. Até então sediado em um belo edifício neoclássico vizinho, o museu carecia de espaço para expor a maior parte das peças do acervo. A complexidade do entorno exigia um engenhoso trabalho de amarração entre as diferentes características dos espaços adjacentes: um casario histórico situado na cota mais alta da rua posterior, uma grande praça ajardinada em uma das laterais, e uma movimentada via expressa que separa o terreno da orla do rio Tejo.

A resposta de Paulo Mendes da Rocha foi dada através de gestos claros e precisos, materializados em três volumes conectados por passarelas. O maior, um grande prisma horizontal branco e suspenso por pilotis abriga os setores expositivos e, no térreo, diversas estruturas de apoio. Ao lado, a expressividade estrutural do bloco anexo contrasta com a silenciosa imposição do volume branco. Do outro lado da avenida, um grande silo redondo para estacionamentos, branco e opaco, arremataria o conjunto, mas sua construção foi vetada pelo governo municipal.

Mais que uma forma de ligação entre as partes do museu, as passarelas revelam uma rede de conexões entre os edifícios e o entorno que define uma nova estrutura de uso para aquele trecho urbano. Imaginado como infraestrutura, o museu liga níveis e pontos diferentes da cidade, vencendo a obstrução representada pela via expressa e integrando-se à estação de trem de Belém. Os caminhos aéreos e as possibilidades de percursos que cruzam o edifício pelo térreo revelam a dimensão urbana do pensamento de Mendes da Rocha, que recusa a ideia limitada de terreno para propor uma estratégia de articulação do território.

O projeto define-se por um complexo exercício de costura urbana, no qual o esforço de contextualização não faz concessões linguísticas ou morfológicas ao entorno circundante. O diálogo com o entorno pode ser notado pelo posicionamento do bloco maior ao longo da via de alto tráfego e afastado do casario; pela relação de alturas, cores e predominância de vazios que o bloco anexo estabelece com a fachada histórica; e pela configuração de uma praça delimitada pelo espaço entre os dois e a irregularidade dos muros existentes que margeiam o terreno.

Procurando expressar-se através da linguagem universal da técnica, a arquitetura de Mendes da Rocha não advoga por ser brasileira ou portuguesa, mas oportuna. Ainda assim, ao assumir uma imposição urbana e uma linguagem arquitetônica pouco vistas na cidade, o Museu dos Coches é percebido por muitos europeus como obra de uma visão estrangeira. Na interpretação da historiadora portuguesa Ana Vaz Milheiro, Mendes da Rocha desembarca em Lisboa como um estrangeiro, e faz um museu hereditário de uma ideia de modernidade inata às sociedades novas, fundamentada em uma visão pós-colonialista que inverte a situação subalterna de seu passado colonial, incorporada no traçado do edifício que flutua sobre o chão da cidade (MILHEIRO, 2015, p. 67) No mesmo sentido, para o crítico inglês Herbert Wright, “(...) a arquitetura extraordinária por si guia os visitantes. Aqui, Mendes da Rocha a oferece de um modo que nenhum arquiteto europeu poderia – com a visão e a musculatura do Novo Mundo.” (WRIGHT, 2014, p. 71)

Ivo Giroto, 2018

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