
O Museu do Amanhã, visto da Praça Mauá Foto Ivo Giroto, 2018

O Museu do Amanhã, visto da Praça Mauá Foto Ivo Giroto, 2018

Detalhe das aletas movidas a energia solar Foto Ivo Giroto, 2018

O Museu do Amanhã, visto da Praça Mauá Foto Ivo Giroto, 2018
Fotos da Obra

Desenho de Gabriel Correa, 2018

Desenho de Gabriel Correa, 2018

Desenho de Gabriel Correa, 2018

Desenho de Gabriel Correa, 2018
Desenhos
Vídeos

Situação: Construído (arquiteto convidado)
Tipo de Intervenção: Obra nova
Acervo: Exposição Virtual
Caráter: Público
Referências
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CALATRAVA, Santiago. Museu do Amanhã/Santiago Calatrava. Archdaily, abr. 2016.
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CORBIOLI, Nanci. Ícone arquitetônico abriga caminhos para o desconhecido. Revista Projeto Design.
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GRUNOW, Evelise. Um porto para a arquitetura. Projeto Design. São Paulo, n.366, p.66-73, ago, 2010.
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MURDOCK, James. Calatrava’s “Museum of Tomorrow” to Showcase a Greener Future for Rio. Architectural Record,- dezembro, 2010.
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ROSENFIELD, Karissa. Projeto de Santiago Calatrava, Museu do Amanhã é inaugurado no Rio de Janeiro.
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SEGRE, Roberto. Museus brasileiros. Rio de Janeiro: Viana & Mosley, 2010.
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TAMAKI, Luciana. Novo marco na Baía. Revista aU – Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, ano 31, n 262, jan. 2016.
Apresentação
Durante a primeira década do século XXI a zona portuária do Rio de Janeiro, mais especificamente a Praça e o Píer Mauá, ocuparam um espaço de grande visibilidade no debate arquitetônico e urbanístico do país. Envoltos em muita controvérsia, os projetos para uma frustrada filial do Museu Guggenheim, apresentado em 2002 pelo arquiteto francês Jean Nouvel, e o Museu do Amanhã, obra do espanhol Santiago Calatrava inaugurada em 2015, estiveram no centro dos movimentos de revitalização da área.
Com a demolição da via elevada Avenida Perimetral a Praça Mauá voltou a ser o ponto de conexão físico e visual entre o entorno do píer e o centro da cidade, oferecendo a Santiago Calatrava um espaço urbano mais amistoso.
O museu que concebeu apresenta uma marcada horizontalidade, que acompanha a linearidade do píer e privilegia a conexão com as áreas públicas lindeiras: além da forte conexão com a praça à frente, o arquiteto cria um percurso contemplativo ao redor do edifício.
Dois pronunciados balanços tocam o solo em um ponto comum, que parece marcar o centro do edifício de Calatrava no sentido longitudinal. Ao avançar sobre os limites do píer, 70 metros junto à redesenhada Praça Mauá e 65 metros junto à Baía de Guanabara, abre as vistas da paisagem e desmaterializa o grande edifício nas extremidades. O que se volta à praça oferece às pessoas que normalmente fazem fila para a visitação um espaço coberto sombreado, além de integrar e expandir o espaço público vizinho. O que aponta para a Baía apenas completa a composição aparentemente simétrica, cobrindo um espelho d’água na parte posterior.
A tensão visual provocada pelo estiramento da arrojada estrutura amplia a percepção do tamanho do prédio, ao passo que lhe confere uma paradoxal sensação de leveza. A forma expansiva minimiza a largura do edifício, que parece delicadamente “pousar” no meio do píer. A desejada percepção de leveza é intensificada quando se contempla o edifício a certa distância, ficando relativamente prejudicada quando de perto o corpo central de concreto impõe sua materialidade, inescapavelmente pesada.
Típica na obra de Calatrava, a manipulação da forma arquitetônica como obra de arte transforma o museu em escultura urbana. O arquiteto cria potentes metáforas arquitetônicas baseadas em analogias à anatomia humana e às formas da natureza, e dotadas de uma notável sensação de suavidade e organicidade. Por meio de uma habilidosa manipulação do desenho e da mecânica das estruturas, seu traço sugestivamente esquelético e espectral privilegia a livre expressão artística da forma, maximizando o potencial visual e comunicativo da arquitetura.
De fato, a força do trabalho de Calatrava reside em ter demonstrado como os pensamentos analógico e imaginativo podem ser unidos com o conhecimento técnico especializado para criar uma nova e diferente linguagem formal e espacial com uma grande força simbólica.
Seus projetos evidenciam uma operação compositiva baseada na tridimensionalidade e na definição de volumes íntegros, ressaltando a presença física das obras. O corpo único de 330 metros de comprimento por 18 metros de altura do Museu do Amanhã, por exemplo, marca a paisagem ao mesmo tempo em que procura proteger a vista para o Mosteiro de São Bento, uma das joias do barroco brasileiro, situado em um morro adjacente.
A paradoxal junção de excessiva simplicidade e exposição estrutural exagerada denuncia uma relação ambígua de seu trabalho com os princípios fundadores do movimento moderno. Tal como em Oscar Niemeyer, de quem se diz admirador, seu pendor escultórico e seu entusiasmo na manipulação formal, material e estrutural tem lhe rendido a pecha de formalista.
Seja como for, Santiago Calatrava construiu uma obra de cunho fortemente autoral, fruto tanto de seu desenho inconfundível quanto de sua particular experimentação de síntese entre arquitetura e engenharia, arte e ciência.
Ivo Giroto, 2018