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Museu do Amanhã  

Santiago Calatrava 

Rio de Janeiro, 2009-2015 

 

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Museu do Amanhã
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Situação: Construído (arquiteto convidado)

Tipo de Intervenção: Obra nova

Acervo: Exposição Virtual

Caráter: Público

Referências

Apresentação

Durante a primeira década do século XXI a zona portuária do Rio de Janeiro, mais especificamente a Praça e o Píer Mauá, ocuparam um espaço de grande visibilidade no debate arquitetônico e urbanístico do país. Envoltos em muita controvérsia, os projetos para uma frustrada filial do Museu Guggenheim, apresentado em 2002 pelo arquiteto francês Jean Nouvel, e o Museu do Amanhã, obra do espanhol Santiago Calatrava inaugurada em 2015, estiveram no centro dos movimentos de revitalização da área.

Com a demolição da via elevada Avenida Perimetral a Praça Mauá voltou a ser o ponto de conexão físico e visual entre o entorno do píer e o centro da cidade, oferecendo a Santiago Calatrava um espaço urbano mais amistoso.

O museu que concebeu apresenta uma marcada horizontalidade, que acompanha a linearidade do píer e privilegia a conexão com as áreas públicas lindeiras: além da forte conexão com a praça à frente, o arquiteto cria um percurso contemplativo ao redor do edifício.

Dois pronunciados balanços tocam o solo em um ponto comum, que parece marcar o centro do edifício de Calatrava no sentido longitudinal. Ao avançar sobre os limites do píer, 70 metros junto à redesenhada Praça Mauá e 65 metros junto à Baía de Guanabara, abre as vistas da paisagem e desmaterializa o grande edifício nas extremidades. O que se volta à praça oferece às pessoas que normalmente fazem fila para a visitação um espaço coberto sombreado, além de integrar e expandir o espaço público vizinho. O que aponta para a Baía apenas completa a composição aparentemente simétrica, cobrindo um espelho d’água na parte posterior.

A tensão visual provocada pelo estiramento da arrojada estrutura amplia a percepção do tamanho do prédio, ao passo que lhe confere uma paradoxal sensação de leveza. A forma expansiva minimiza a largura do edifício, que parece delicadamente “pousar” no meio do píer.  A desejada percepção de leveza é intensificada quando se contempla o edifício a certa distância, ficando relativamente prejudicada quando de perto o corpo central de concreto impõe sua materialidade, inescapavelmente pesada.

Típica na obra de Calatrava, a manipulação da forma arquitetônica como obra de arte transforma o museu em escultura urbana. O arquiteto cria potentes metáforas arquitetônicas baseadas em analogias à anatomia humana e às formas da natureza, e dotadas de uma notável sensação de suavidade e organicidade. Por meio de uma habilidosa manipulação do desenho e da mecânica das estruturas, seu traço sugestivamente esquelético e espectral privilegia a livre expressão artística da forma, maximizando o potencial visual e comunicativo da arquitetura.

De fato, a força do trabalho de Calatrava reside em ter demonstrado como os pensamentos analógico e imaginativo podem ser unidos com o conhecimento técnico especializado para criar uma nova e diferente linguagem formal e espacial com uma grande força simbólica.

Seus projetos evidenciam uma operação compositiva baseada na tridimensionalidade e na definição de volumes íntegros, ressaltando a presença física das obras. O corpo único de 330 metros de comprimento por 18 metros de altura do Museu do Amanhã, por exemplo, marca a paisagem ao mesmo tempo em que procura proteger a vista para o Mosteiro de São Bento, uma das joias do barroco brasileiro, situado em um morro adjacente.

A paradoxal junção de excessiva simplicidade e exposição estrutural exagerada denuncia uma relação ambígua de seu trabalho com os princípios fundadores do movimento moderno. Tal como em Oscar Niemeyer, de quem se diz admirador, seu pendor escultórico e seu entusiasmo na manipulação formal, material e estrutural tem lhe rendido a pecha de formalista.

Seja como for, Santiago Calatrava construiu uma obra de cunho fortemente autoral, fruto tanto de seu desenho inconfundível quanto de sua particular experimentação de síntese entre arquitetura e engenharia, arte e ciência.

Ivo Giroto, 2018

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