
Foto: Ivo Giroto, 2018

Foto: Ivo Giroto, 2018

Foto: Ivo Giroto, 2018

Foto: Ivo Giroto, 2018
Fotos da Obra: Ivo Giroto, 2018.

Desenho: Gabriel Correa, 2018

Desenho: Gabriel Correa, 2018

Desenho: Gabriel Correa, 2018
Desenhos
Vídeos

Situação: Construído (arquiteto convidado)
Tipo de Intervenção: Obra nova
Programa: Música, teatro, dança, artes plásticas
Caráter: Público
Referências
Envolto em muita discussão e polêmica, o projeto do francês Christian de Portzamparc para a Cidade das Artes do Rio de Janeiro – originalmente Cidade da Música – deparou-se com o desafio de transformar o cruzamento entre as duas vias mais importantes da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em um lugar significativo. No bairro idealizado por Lúcio Costa em 1969 segundo os preceitos do urbanismo moderno, o desenho do grande dispositivo viário de conexão entre as avenidas gerou dois grandes espaços residuais, separados pelas pistas da Avenida das Américas e cercados pelo intenso tráfego da região. Em um deles fica um dos mais importantes terminais de ônibus da cidade, e no outro, o grande complexo dedicado à música cuja construção durou de 2002 a 2013.
Uma vez mais, tratou-se de criar contexto e marcar a imensidão da paisagem horizontal da Barra da Tijuca com um ícone referencial, algo somente possível com um edifício de porte e imposição monumental. Potzamparc resolveu a questão elevando as salas de concerto e demais áreas funcionais de apoio para o primeiro pavimento, dando maior visibilidade ao volume como um todo. Duas grandes lajes em forma de paralelogramo atuam como contenção geométrica para planos serpenteantes que partem do térreo, rasgam a primeira laje, e definem as áreas fechadas no nível superior.
Assim como em sua Cidade da Música de Paris (1984-95), a espacialidade da Cidade das Artes é marcada pelo protagonismo da rede de circulações, criando amplos espaços de convivência entre as salas de concerto, definindo uma combinação de vários edifícios dentro um mesmo edifício. Mas no Rio de Janeiro inverteu-se a relação entre abertura e fechamento do edifício parisiense, definindo uma arquitetura caracterizada pela exterioridade e pela relação aberta com o clima e a paisagem. O partido arquitetônico é comparável ao usado na expansão do Palais des Congrès de Paris (1994-99), porém no caso francês a predominância de um volume fechado e denso revela o esforço do arquiteto em caracterizar, por aqui, uma obra de caráter “brasileiro”. Afirma o arquiteto: “A Cidade das Artes se assemelha a uma casa grande, uma grande varanda acima da cidade – uma homenagem a um arquétipo da arquitetura brasileira.” (PORTZAMPARC, s.d.).
No térreo, mantido como praça coberta, ressaltam as alusões aos pilotis da arquitetura moderna brasileira. A ambientação livre e a ligação desimpedida com o entorno encontram na solução de Affonso Eduardo Reidy para o vão do Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo, sua referência primordial. Nas duas extremidades, rampas sinuosas lembram às do Pavilhão do Brasil para a Feira Mundial de Nova Iorque de 1939, projetado por Costa e Niemeyer. As formas expansivas e leves do edifício, integralmente feito em concreto aparente, parecem homenagear o “poema do ritmo, da proporção, mas também da linha que dança e do volume que envolve” (PORTZAMPARC, 2009, p. 10) que o arquiteto enxerga nas obras de Niemeyer.
Portzamparc é de uma geração de arquitetos formados entre as décadas de 1960 e 1970, que declararam seu interesse e admiração pela experiência moderna brasileira. São conhecidos os depoimentos de figuras como Rem Koolhaas, Zaha Hadid e Norman Foster sobre o fascínio e o estímulo que as formas livres de Oscar Niemeyer exerceram sobre seus respectivos trabalhos.
Ivo Giroto, 2018.